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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
TRIO ELÉTRICO - SESSENTA ANOS DE HISTÓRIA DO TRIO ELÉTRICO, NO CARNAVAL DA BAHIA, BRASIL.
No dia 29 de janeiro de 1951, segunda-feira antes do carnaval [1], Dodô e Osmar tiveram outra experiência chave ao testemunhar o desfile do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife, que fazia uma parada em Salvador na sua ida para o Rio. O Vassourinhas era especializado em frevo, estilo musical pernambucano em ritmo de marcha, conhecido no carnaval do Rio de Janeiro desde os anos 1930 [2]. O evento, abençoado pelas autoridades e apoiado por patrocinadores, emissóras de rádio e a comunidade pernambucana da cidade, chegou a reunir um número inédito de pessoas no centro de Salvador [3].
"A Bahia quase inteira foi pra Avenida Sete ver o desfile dos Vassourinhas. [...] eles começaram lá pelo Campo Grande e vieram em direção à Praça da Sé, à Praça Castro Alves. [...] E lá vinham eles, iam pela Avenida Sete, e eu também no meio da folia, pulando atrás, do lado. Foi uma loucura tão grande, o povo pulando... Nunca se tinha visto frevo aqui na Bahia. [...] Foi aí que eu dei a idéia pra Dodô: Dodô, vamos sair tocando essa música. Que eu já sabia algumas das músicas. Música de Nelson Ferreira, de Capiba... Frevo rasgado, aquele frevo. O principal era o que se toca até hoje, você sabe qual é [canta um trecho da música "Vassourinhas"] Aí nós preparamos a fobica – a fobica é um Ford 29."
O. Macêdo, 1995 apud PAULAFREITAS (2005)
Os acontecimentos a seguir foram de grande importância histórica para o carnaval baiano: o velho Ford '29 de Osmar, apelidado de Fobica [4], normalmente usado para transportar peças de metal, foi transformado em um palco movel, para permitindo a dupla de executar clásicos do frevo pernambucano com seus exóticos paus elétricos em alto volumen durante os festejos.
Equipado com um gerador de 2 quilowatts, decorado com motivos carnavalescos e altofalantes montados nas partes dianteira e traseira, o Ford musical, entrou em cena no domingo de carnaval, por volta das quatro da tarde. Acompanhada por seis percussionistas, entre eles também Armando Mereilles, o sogro de Osmar, fantasiado de havaiana 'ula ula', a Fobica entrou na rua Chile na altura da praça Castro Alves, juntando se ao corso de automóveis do desfile oficial.
"... acabamos com o corso, pois vinha atrás uma massa compacta de gente, que, a exemplo do que ocorrera na quarta feira [sic] com o Vassourinhas, pulava e se divertia como nunca antes ocorrera na Bahia. Nossa emoção era enorme. Mais de 200 metros de povo atrás da fobica. O dado pitoresco dessa história foi que quando subiamos a rua Chile, pedi ao motorista, um amigo nosso, Olegário Muriçoca, que parasse o carro para que tocamos alí, onde o espaco é mias amplo. Pedimos várias vezes a Olegário que parassse e ele nada de frear. Ja furiosos eu e Dodô desbrejavamos então Olegário respondeu que já havia tempo a fobica estava quebrada, havia queimado o disco de embreagem, estava sem freio e com motor desligado. O carro andava empurrado pelo povo."
O. Macêdo, 1979 apud GÓES (1982).
Esta foi a primeira vez que o carnaval popular da Bahia conquistou abertamente um espaço da parte oficial da festa que, embora público, era reservado exclusivamente às atividades das elites. Parece que o desfile do Vassourinhas, cinco dias antes, com aqueles frevos recebidos com tanto entusiasmo pela populacão, tinha servido como uma espécie de ensaio pela estreia da Dupla Elétrica e sua Fobica. O episódio, que havia deixado todos — Dodô e Osmar incluidos — de queixo caido, marcou o nascimento de um novo gênero musical (hoje chamado frevo do trio, frevo novo, frevo baiano etc.) e, ao mesmo tempo, de uma nova forma de brincar no carnaval na Bahia, que pouco mas tarde iria ser conhecida como Trio Elétrico.
No ano seguinte, Dodô e Osmar substituíram a Fobica por uma pickup Chrysler Fargo e mudaram a formação de duo para trio, adicionando um triolim [5], também eletrificado ao modo dos paus eletricos, tocado pelo amigo Temístocles Aragão. Conseqüentemente mudaram também o nome, de Dupla Elétrica para Trio Elétrico. Outro ano depois, já tinham um caminhão com oito altofalantes, luzes flourescentes e geradores, patrocinado pelo fabricante local de refrigerantes Fratelli Vita (agora Brahma) [6]. Na metade dos anos 1950, quando outras bandas começaram a copíar o conceito, o termo Trio Elétrico tornou-se genérico.
"..um industrial aqui da Bahia, chamado Miguel Vita, percebeu que esse negocio de Trio Eletrico tinha grandes possibilidades. Poderia servir como ótimo meio de promoção da firma dele, a Fratelli Vita, fabricante de cristais e refrigerantes. [...] Bem, a partir dai o negócio foi tomando vulto, a começaram a aparecer outros trios, em pick-ups, com luzes e altofalantes para todos os lados. O pessoal tocava com instrumentos que Dodô fabricava para eles, porque ainda não havia praça para comprar com há hoje em dia. Lembro que neste ano sairam pelo menos trés trios, os Cinco Irmãos, o Ipiranga, e o Conjunto Âtlas..."
O. MACÊDO 1979, apud GÓES (1982)
As décadas seguintes trouxeram uma maré de vans e caminhões, transformados em palcos moveis, aumentando cada vez mais em tamanho, sistema de som, e sofisticação nos detalhes da sua decoração. Quando Dodô e Osmar deixaram de desfilar em 1960, o fenômeno já estava consolidado, e continuava crescendo nas mãos de outros trios como o Tapajós, organizado por Orlando Campos a partir da segunda metade dos anos 50 [7].
Hoje, quase 60 anos mas tarde, os descendentes do velho Ford 29 evoluiram para caminhões de medidas de brontossauro, chegando a carregar equipamentos com rendimentos de até 200 db(!), altofalantes em todos os quatro lados, bandas de até 25 integrantes mais os dançarinos em seus teitos agitando as multidões dançando em torno deles, e artigos científicos publicados sobre os efeitos da exposição a seu som a longo prazo.
A fama do trio elétrico chegou a ultrapassar a da guitarra baiana por muito. Qualquer texto sobre a evolução dos trios, porém, cita a guitarrinha como a principal razão de existir deles.
[1]
O histórico desfile do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife em Salvador, que chegou a reunir cerca de 80.000 pessoas nas ruas do centro, ocorreu no dia 29 de Janeiro de 1951, uma segunda-feira.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS: 30/01/ 1951, UMA SEGUNDA-FEIRA.
Um artigo do jornal A TARDE do dia seguinte (terça, 30 de janeiro 1951, chamado "O povo envolveu o Vassourinhas numa carinhosa recepção") é reproduzido no livro "50 anos do Trio Elétrico" (GÓES, 2000). Ao lado do artigo, um texto explica que o evento em questão teve lugar em 1950. No apêndice do livro, entretanto, consta a data correta do artigo: "30/01/51".
Este érro quanto ao ano do desfile do Cube Vassourinhas em Salvador é bastante difundido na literatura sobre o Carnaval da Bahia. Outro érro comum parece existir quanto ao dia, sendo que Osmar Macêdo, em seus depoimentos, costumava mencionar uma "quarta-feira" para referir-se ao dia da performance (ver a segunda citação no artigo, por exemplo).
Resumindo, o desfile do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife em Salvador ocorreu na segunda-feira, dia 29.1. de 1951, uma semana antes do carnaval, é descrito por Osmar Macêdo, com ricos detalhes, como a fonte inspiradora que levou a criação da famosa Fobica (ver citações no artigo). Em conjunto, essas informações indicariam o dia 4 de fevereiro de 1951, o domingo seguinte, como a data da primeira saida da Fobica na rua Chile.
[2]
O primeiro clube de frevo de Rio de Janeiro foi fundado em 1935. Inúmeras composições no repertório da orquestra Vassourinhas tem sido dedicadas explicitamente ao Carnaval do Rio, tais como Vassourinhas está no Rio ou Um Pernambucano no Rio.
[3]
A Tarde, 23 de janeiro 1951 - 'O desfile do Vassourinhas'.
Estado Da Bahia 26 de janeiro 1951 - 'O Vassourinhas vem aí no "Santarém'
Estado Da Bahia, 30 de janeiro 1951 - 'Imensa mulitdão acorreu às ruas'
Ironicamente, a imprensa baiana insinuava sobre as mundanças que a viajem do Vassourinhas iria provocar no carnaval carioca:
"Estamos certos de que, para os carnavais futuros na cidade maravilhosa, os batuques que descem o morro e se espalham pela cidade, aprendendo com o "Vassourinhas", imprimirão novo ritmo aos seus instrumentos, e a suas morenas gingarão com cadência nova."
A Tarde, 23 de janeiro, 1951
Pouco teriam suspeitado que o frevo do Vassourinhas iria revolucionar o carnaval da Bahia.
[4]
Fobica era uma maneira de se chamar os calhambeques no Nordeste.
O veículo esta em exposição na "Casa do Som", no Museu da Música Baiana, parque de Abaeté, Salvador, BA.
[5]
O violão tenor, também conhecido como triolim, é um violão de porte meio, afinado como um banjo tenor, (Do-Sol-Re-La), foi introduzido e popularizada no Brasil no início dos anos 1930, por executantes como Joãozinho Amaral, Garoto (Aníbal Augusto Sardinha), Dadinho (Oswaldo Pasquareli Bartholoto) e outros, e comumente utilizada em ensambles de Choro e Jazz. Osmar foi um grande admirador de Garoto e chegou a conhecer ele pessoalmente.
[6]
A parceria com a Fratelli Vita durou até 1957, e permitiu que Dodô e Osmar sofisticassem o seu sistema.
[7]
Também pelo Trio Tapajos, os dados da sua criação não são claros, variando entre 1955 e 1958.
Para 1958:
"Já lá no subúrbio [subúrbio ferroviário de Salvador] existia um trio elétrico que se chamava de Cinco Irmãos. Então teve a ideia de convidar esse trio para tocar no baile de carnaval do clube, revezando com a orquestra, o que seria uma novedade e animaria muito mais o baile. Mas, deixa estar que eu não estava sabendo que havia uma briga entre um dos diretores do clube e um membro do tal trio. Encurtando a conversa, o trio não apareceu para tocar no baile do Flamenguinho, causando uma enorme frustração a todos os associados e me deixando numa situação muito desagradavel.
Essa história me marcou de tal maneira que quando foi no ano seguinte, 1958, por uma questão de honra, resolvi criar um trio elétrico. O Tapajós. Dessa forma garantia a animação do baile do Flamenguinho e podia também sair pelas ruas de Piripiri [bairro do subúrbio ferroviário] durante o dia; e foi que aconteceu. Nessa época, o trio nada mais era que um simples caminhão enfeitado, sem nemhuma sofisticação, que saiu só lá em Piripiri com a ajuda do vereador Armando Ulm. Com esse caminhão fizemos os carnavais de 58 e 59."
Orlando CAMPOS, 1980 apud GOES (1982)
... e para 1955:
O TRIO ELÉTRICO É UMA INVENÇÃO BAIANA, PRECISAMENTE, EM SALVADOR, BAHIA, BRASIL.
"Eu fiz uma festa de primavera, em 1955, no subúrbio, e convidei o trio Cinco Irmãos para tocar. Não sei por que motivo o trio não apareceu. Eu tinha na época 22 anos. Me senti frustrado e culpado. Ai eu gritei para a multidão que iria fazer um trio elétrico para mim. Foi um grito de guerra. Em 40 dias eu promovi uma festa e já tinha o Tapajós. Eu comprava os instrumentos com Dodô e tomava aulas com ele e Osmar, que me ensinaram como fazer a felicidade e a alegria das pessoas com essa invenção maravilhosa".
Orlando CAMPOS apud MARTINS (2005), citado por PAULAFREITAS (2005)
Como se vê, a história é a mesma, enquanto os dados dos anos são diferentes.
O Trio Tapajos comemorou os seus 50 anos em 2005.
REFERÊNCIA:
http://pt.guitarra-baiana.com/historia/anos-50-a-invencao-do-trio-eletrico.html
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
FAMÍLIA BARRETO: 13 - 12 - 1997.
CADELA DUQUESA.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
VISITA AO PORTO DE SALVADOR, BAHIA, BRASIL.
MARLY, EM 22 DE FEVEREIRO DE 1994.
Cari, Ana Caroline (no velotrol) e Jôse.
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